sábado, 29 de setembro de 2012

QUEM SABE



By Mércia Dantas
 
Deixei de contar o tempo,
escondi o calendário,
desliguei o relógio,
fechei as gavetas,
guardei os retratos,
quebrei o espelho.
Marcas na face
não me interessam,
saber das horas perdidas
também não, já foram...
O cheiro do mofo
e o amarelo das fotografias
já não me dizem nada,
são histórias banais.
Aprendi a ouvir a alma,
as batidas do coração,
deixa-me escutar a tua,
quem sabe ainda há tempo...
Para contar o tempo,
olhar o calendário,
ligar o relógio,
abrir as gavetas,
fazer novas fotografias
e sorrir no espelho.
Quem sabe...

Bsb, 30/set/2012

EU NEM TE CONTEI




 
Das cores que se fizeram,
dos braços que me abraçaram,
das loucas noites em claro.

Que sobrevivi,
aprendi a fazer da solidão
a melhor amiga, companheira,
aprendi a esperar o momento.

Já não me rasgo, não grito.
Prefiro o silêncio... ele fala.

Quantos planos eu tenho,
antes só tinha você.
Era um tropeço, um engasgo.

Agora eu me tenho, eu me basto...
Enxergo ao longe, um mundo lindo...

Eu não te contei?
Eu nem te vi...

Bsb, 29/set/2012

UM BRINDE




Às barreiras transpostas.

Ao período de escassez que precede a fartura do esclarecimento.

À solidão que faz compreender o quanto é bom estar a dois, a três, a quatro, a mil...

Aos amigos de fato, aqueles que escrevem nossa história e nos põem a rir e/ou a chorar de emoção, seja ao lembrá-los ou no desfrute de suas companhias.

Ao trabalho, que engrandece, dignifica e nos faz sentir gente.

À felicidade, porque existe; ainda que em gotículas, mas que salva e valoriza o bem maior: a vida.

Bsb, 2002

POR UM INSTANTE




Vida, instante mágico, fluídico,
sons natureza,
paixões entrecortadas.

Vida multidão,
vida solidão,
vida, paixão.

Cores se refazendo em mim,
saudade falanto de ti;
cinzas soprando no ar,
lembrando fogueira,
presença da vida.

Fogo queimando meu ser,
eu só, só aqui, sem ter você.

Silêncio que ecoa meus gritos,
gritos que chamam você,
você que não volta pra mim.

Saudade batendo forte,
coração forte batendo,
batendo, batendo, por ti.

(A saudade do que não pode mais ser... do que não pode mais ser)

Bsb, 1992

POETISANDO





E há razão para a flor,
e faz sentido o orvalho.
E tem beleza o calor,
e faz tão bem a garoa.

E é tão gostosa a chuva,
aninhando a gente com outra gente.
Criando calores humanos,
aconchegando no espaço
até então vazio.

E há razão para o sentir,
e há razão para o chorar.

Enquanto houver razão para se viver.

Bsb, 05/12/94

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A ESPERA



 

                                                        Cinemagraph: Jamie Beck

 
Esperei a noite inteira
e você não veio.
A impaciência tomou-me a alma,
pensei mil loucuras,
mil razões, tantos porquês.
Debati-me e me fiz pedaços...
Chorei, ah como chorei...
Pelos risos que não dei,
as mãos que não senti,
olhando aquela cama agora inútil
e completamente vazia.