sexta-feira, 29 de junho de 2012

MARCELOS QUE EMOCIONAM


Será qualidade dos nomes, coincidência ou privilégio? Deles e nosso, com certeza. Um acaba de nos deixar, com vida (graças a Deus) e com enorme saudade, após seu brilhante trabalho na telinha, na personagem Crô. Durante meses, Marcelo Serrado protagonizou cenas hilariantes, inteligentes e que nos envolvia com seus múltiplos sentimentos de amor e ódio por uma vilã cruel. Vibramos com a recompensa justa ao final da trama, muito merecida. Competência e sensibilidade.  Aguardamos ansiosos o próximo papel.
Marcelo Canellas, na beleza de suas crônicas, nas abordagens televisivas, vide atual quadro aos domingos “Quem é meu pai?”. Competência e sensibilidade. Pra escrever, descrever e ganhar tantos prêmios jornalísticos, justamente.
Marcelo Abreu, nosso querido filho de São Luis.  Amor incondicional pela ilha, seus amigos, suas raízes, pelo Guaraná Jesus. Jornalista, escritor e poeta, desbravador das belezas e dramas humanos que retrata. Competência e sensibilidade. Seu fã clube de leitores assíduos está sempre aguardando a próxima história, ávidos por emoções.
Marcelo Jeneci, cantor, compositor, multi-instrumentista (piano, acordeon e guitarra). De origem humilde, competência e sensibilidade nas belíssimas composições. Seu último sucesso, a música “Felicidade” é fantástica, carinhosa, dá vontade de dançar na chuva, como fala a canção. É a melhor música de 2011 e creio que dos últimos anos. Linda!
Ao binômio comum aos quatro, acrescento mais uma palavra: simplicidade!

Por Mércia Dantas - Maio/2012

sábado, 23 de junho de 2012

FESTA DE SÃO JOÃO



FESTA DE SÃO JOÃO

São João disse, São Pedro confirmou. Que você fosse meu marido (esposa) , que Jesus Cristo mandou. Com esta frase e segurando a mão do pretenso (a)  namorado (a), em cima da fogueira,  saltitávamos em quatro lados e assim casávamos à vontade, todos os anos.
Inocência, pureza, alegria indescritível na preparação e participação nas festas juninas, em particular, na de São João. A mãe preparando as bacias de pamonha, muito milho assado na brasa da fogueira, batata doce, o bolo de macaxeira, o pé-de-moleque. Uma semana inteira cortando e preparando as bandeirolas pra enfeitar a rua. Na minha infância não tinha nada pronto - até a cola era feita em casa com goma -, tudo se fazia artesanalmente, com muito empenho, esforço e competência de equipes. Vizinhos formavam grandes famílias.
Os fogos, meus preferidos – as estrelinhas, sempre gostei de estrelas, não sei porque. Mas tinha um que eu tinha medo. Ele corria saracoteando pelo chão e se nos pegasse, só parava quando entrava debaixo de uma saia.  Uma gritaria só, um Deus nos acuda. E queimava!
A quadrilha era outra farra: “Lá vem chuva, todo mundo se abaixava. É mentira!” Anarriè, Alavantú, Changê, Balancê – ai que saudades! A noite passava em felicidade, sanfona, pandeiro, triângulo e o arrasta-pé amanhecia. E na alternância dos pares, todo mundo era seu.
O prazer de estar bonita pra festa, tranças bem feitas, o rouge bem passado e as famosas pintas no rosto feitas com lápis. Quando não tinha, passávamos a cabeça do fósforo na fuligem do candeeiro (tirna) que dava o mesmo efeito. Muita anágua, quanto mais engomada melhor, pra dar mais efeito e volume por baixo dos vestidos de chita adornados com labirinto.
E as simpatias? Fazia todas. Uma era colocar nomes de candidatos em papéis bem enroladinhos numa bacia com água, o que abrisse ia ser o próximo namorado. Outra, pegar um fio bem longo de cabelo, uma aliança e deixar pendulando dentro de um copo. Quantas vezes batesse no copo, a indicação dos anos que faltavam pra casar. E a faca virgem fincada na bananeira, pra o leite jorrar e “formar” a inicial do amado? E a gente via, pasmem!
 “São João, São João, acende a fogueira do meu coração” – lembro a música.
Acendeu!  Viva São João!

Mércia Dantas – Brasília, 23/junho/2012.

quarta-feira, 20 de junho de 2012


FOTOGRAFIA DA ALMA

Por Mércia Dantas, em junho/2003

Nos meus cinquenta e dois anos faço uma auto-análise de quem sou, o que quero, para onde vou. Reflito, faço um pequeno balanço. Tento não lembrar das dores: da alma, dos enganos, das traições, das perdas. Estas doem mais do que a minha artrite. Tenho planos – tantos já tive e os desfiz. Mas continuo inteira, íntegra, feliz. Tenho uma mente fotográfica, privilegiada. Tenho filhos perfeitos, inteligentes, amorosos. Tenho uma casa para morar – quantos não a têm. Sou privada pela doença de dar passos largos, como gosto. Mas sou beneficidada por uma mente ágil, sou generosa. Minha vida, até agora, não tem sido melhor que a de outrem, mas é uma vida com histórias para contar, para rir e chorar.  Sou feliz porque sei discernir  – agora sei – o certo do errado. Estou feliz porque posso e quero chegar em algum lugar e sei como buscar e alcançar minhas metas. Me sinto gente, porque faço dos meus dias, uma missão. Missão de ser cidadã, de ser mãe, de ser amiga. Busco no meu interior e esqueço da marca do tempo, no corpo; e percebo que o tempo não passou para o meu coração. Que continua jovem, palpitante, esperançoso, de dias melhores, de uma nova paixão, de um novo amor. Percebo que estou aprendendo, finalmente, a conjugar o verbo AMAR e todos os seus derivativos. E assim fotografo a minha alma, que é bem colorida, farta, alegre. Em alguns momentos triste, solitária, mas sempre alma. Não mais pura, mas que acredita em DEUS.

Minhas fotos preferidas aos 30 anos, em Manaus. Aos 40, na redação do Correio Braziliense