sábado, 26 de janeiro de 2013

A PROCURADA







Procura-se a amizade perfeita. Pode ser uma amizade nova, uma amizade velha, mas sincera. Basta ser alguém que queira caminhar a meu lado, sem fazer muitas perguntas, sem cobranças. Deve ser humano o bastante para entender que já percorri caminhos, de alguns cansei. Inteligente para detectar que tenho alguns conhecimentos, não me imponha seu lado científico. Conheço todos.  Que não tente competir comigo, já fui atleta, já fui de time de vôlei. Uma amizade pra dizer que tenho um amigo, não pra enxugar minhas lágrimas e que dê boas risadas quando eu disser que não foi nada, apenas um cisco. É bom ter um amigo, que compartilhe as coisas boas da vida, as ruins não precisa, ligo a TV todos os dias, leio jornais. Preciso dessa pessoa que não precise fazer sombra. Não gosto de fantasmas. Prefiro pessoas do meu tamanho. Não precisa pegar na minha mão, já aprendi a andar. Não precisa me chamar de Dona, meus cabelos brancos só precisam de tratamento à base de cremes. Porém, que respeite a minha idade. Mas, por favor, preste atenção, não sou decrépita. Preciso de alguém que sonhe e voe comigo das brincadeiras da infância a Paris. Alguém que mesmo sabendo que sou pobre, reconheça o tesouro mental que tenho e queira acompanhar-me num delicioso mergulho em busca do elo perdido. Ah, e principalmente, se reconhecer em algum tempo que errou comigo, que seja humilde o bastante para pedir perdão. Procura-se!

Bsb, 26/janeiro/2013.

SIMPLESMENTE MARIA



 












By Mércia Dantas
É, hoje é uma data especial, muito especial. Maria, minha mãe, completa 90 anos de idade. Casou aos 14, aos 15, exatamente nesta data, seu presente de aniversário, o primeiro filho: Lívio, que faria 75 anos de idade juntamente com mamãe, não tivesse falecido precocemente, aos 42. Maria, escolhi esta foto dos 54 anos pra te homenagear hoje dia do teu aniversário. E lamento que o AVC que fulminou a saúde há 15 anos e demais problemas decorrentes a impeçam de falar comigo, mas eu quero te dizer mais uma vez:

EU TE AMO MAMÃE! FELIZ ANIVERSÁRIO!!!

Você é a melhor lembrança da minha vida, seus sábios ensinamentos, suas correrias pra dar conta de doze filhos, sua vontade de ver o pai e os filhos sempre no alto, seu bom gosto, sua agonia pela mesa sempre farta, seus bolos fofinhos e tão perfumados de raspas de limão. Mãe querida, não posso falar muito de você, me emociona, afinal já não sou tão mocinha, já tenho 62 anos. Passei a vida inteira ouvindo os amigos, vizinhos e familiares te chamando de Maria de Tonheca. Hoje, tomo a liberdade de dizer que você não é de ninguém, teu nome sempre foi liberdade. Você sempre voou, sempre quis mais, sempre quis antes de todo mundo, sempre correu atrás de seus sonhos. Você sempre foi a rainha. E, como filhos e súditos desta rainha, depositamos aos seus pés, nossos agradecimentos e pedimos ao Santo Anjo do Senhor nosso Zeloso Guardador que te ilumine e te cuide em braços amorosos por todo o sempre, assim como fizestes conosco, enquanto pudestes.

Bsb, 19/dezembro/2012

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A FORASTEIRA



By Mércia Dantas

Vestida de roupas luxuosas, de alta grife, murmura cabisbaixa, quase num lamento,  ao chegar numa mercearia:
- Moço, me vende uma garrafa de álcool fiado?
Do outro lado do balcão, o dono olha aquela jovem, tão bem arrumada e intrigado com o pedido, sem pestanejar, responde:
- Aqui nesta cidade não se vende fiado não, moça. É tudo no dinheiro.
As lágrimas assomaram-lhe aos olhos, abriu a bolsa e mostrou a identidade, o homem não se abalou. Ela resolveu então propor uma troca. Tirou a aliança de ouro da mão esquerda e disse: fique então com minha aliança até eu arranjar o dinheiro.  Ele resolveu confiar o produto e entregou a garrafa de álcool.
Deve ter ficado com pena, ela estava grávida.
Ela saiu depressa pra acender o fogareiro com o álcool e fazer a primeira e única refeição possível naquele dia:  sardinha com pão. Mais nada!
Há poucos meses, vivia numa casa de frente pro mar, com três empregadas e onde se faziam jantares à base de lagosta regada a bons vinhos franceses.
Mas, ela teve que partir, deixar seu lugar, aprender com o mundo.
Vivenciou extremos, teve que aprender com a indiferença, a diferença.

Bsb, 21/jan/2013