quarta-feira, 18 de julho de 2012

O DIA COMEÇA ÀS DEZ DA NOITE

por Mércia Dantas

Hoje acordei – de novo – às dez da manhã. Antes, sentia-me constrangida, não tinha coragem de revelar esse “deslize”. Tudo bem, acordo às sete, às oito, às nove, mas somente às dez é que eu sinto que começa meu dia. Sem remorsos por não ter assistido ao primeiro jornal, derramamento de sangue tem o dia inteiro. Sem saudades da Ana Maria Braga e do Louro José, não cozinho mais. Na hora do Bem Estar, que termino assistindo ao que me interessa, pelas postagens no facebook.  Triste por não caminhar aos primeiros raios de sol, tornei-me sensível à luminosidade solar – que coisa! Afinal, durmo bem tarde, nada mais compreensível que meu organismo cobre a devida compensação. Mas, depois que eu li a frase da escritora Clotilde Tavares: “Acordo tarde, porque acho o mundo um lugar inabitável antes das dez da manhã” , eu me senti a pessoa mais feliz do mundo. Finalmente, encontro alguém que compactua comigo. Pra mim não é fácil acordar cedo, até tento, sem sucesso. Minhas manhãs poderiam chamar-se “Café com Letras” – sem plágio, tem algum site com este nome. Sim, corro para a leitura, procuro os posts agradáveis e que me estimulem a enriquecer meu já quase meio dia. Faço pesquisas, recebo mensagens frequentes da Brahma Kumaris e coloco no Face. Inteiro-me dos amigos em suas postagens – fofoca consentida – e compartilho as boas notícias que considero úteis. Lembrei-me das cartas que mamãe escrevia e começavam sempre assim: “Escrevo estas mal traçadas linhas, para te dar notícias e receber as tuas”... inesquecível. As cartas de antigamente garantiam uma resposta – muito esperada por sinal. O melhor dia, quando o carteiro chegava a nossa porta para nos entregar aqueles envelopes barrados de verde e amarelo e selos colados com cuspe (preferência nacional, rsrsrsrs...). O Facebook não dá essa garantia. Nem sempre você sabe se alguém leu seus posts. 

Parei pra pensar, por que o número dez me soa tão agradável? Boas lembranças me vem à memória: as notas dez na escola, o filme os Dez Mandamentos com Charlton Heston – assisti cinco vezes. As dez Ave-Marias rezadas em cada mistério do terço. E uma péssima: a hora do namorado ir embora. Naquele tempo, moça direita não ficava namorando além das dez. Será que um dia ainda vou ganhar na Timemania? É o único jogo que você escolhe dez números. Lembrei hoje, divagando sobre o número dez, que nasci às 22h, dez da noite. Sou notívaga de “nascença” – como se diz no nordeste. Tudo se encaixa, poucos me compreendem, mas não me preocupa muito esse fato. Também às dez começam os melhores filmes na TV a cabo, quando não tem dezenas de reprises e já está acabando a odienta atual novela das nove, Avenida Brasil, líder em barracos. Às vezes assisto o chato do Datena no programa noturno, só pra testar meus conhecimentos gerais, mas confesso que fecho os olhos quando alguém cai no buraco porque errou ou não soube a resposta. Não suporto ver alguém caindo, odeio as cacetadas do Faustão – não sei a graça que tem ver alguém se dar mal. Devo ser uma boa pessoa, creio que já é uma esperança de ir pra o céu quando morrer. E quando resolvo deitar às dez da noite, confesso que penso: ainda é tão cedo! Elementar, meu dia começa às dez da noite e não às dez da manhã, quando eu deveria ainda estar dormindo. Como não pensei nisso antes? Vou fazer as contas então. O dia começa às dez da noite, com mais umas dezesseis horas acordada, duas da tarde – minha verdadeira hora de dormir, para acordar às dez da noite, minha primeira hora do dia. Aff!!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário