By Mércia Dantas
Vestida de roupas luxuosas, de alta grife, murmura
cabisbaixa, quase num lamento, ao chegar
numa mercearia:
- Moço, me vende uma garrafa de álcool fiado?
Do outro lado do balcão, o dono olha aquela jovem, tão bem
arrumada e intrigado com o pedido, sem pestanejar, responde:
- Aqui nesta cidade não se vende fiado não, moça. É tudo no
dinheiro.
As lágrimas assomaram-lhe aos olhos, abriu a bolsa e mostrou
a identidade, o homem não se abalou. Ela resolveu então propor uma troca. Tirou
a aliança de ouro da mão esquerda e disse: fique então com minha aliança até eu
arranjar o dinheiro. Ele resolveu
confiar o produto e entregou a garrafa de álcool.
Deve ter ficado com pena, ela
estava grávida.
Ela saiu depressa pra acender o fogareiro com o álcool e
fazer a primeira e única refeição possível naquele dia: sardinha com pão. Mais nada!
Há poucos meses, vivia numa casa de frente pro mar, com três
empregadas e onde se faziam jantares à base de lagosta regada a bons vinhos
franceses.
Mas, ela teve que partir, deixar seu lugar, aprender com o
mundo.
Vivenciou extremos, teve que aprender com a indiferença, a
diferença.
Bsb, 21/jan/2013
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