terça-feira, 14 de agosto de 2012

Desencanto (Era Collor)


(Foto Bruno Santos/Terra)

Brasil, já não és mais a pátria amada.
De tanto desamor para com os seus,
pôs-me em dificuldade para com os meus.

Estou adormecida, no chão,
e não em teu berço explêndido,
sonhando resolver os problemas que não criei,
mas que tenho que enfrentar, como os tantos outros.

Teu lábaro estrelado
já não brilha em mim, como no céu.

A poeira que trago nos pés,
de longas caminhadas,
faz-me sentir mendicante.

Não percebo a real riqueza
tão decantada em versos
e sempre irreal em minha vida.

Carrego meu país nas costas,
sem parecer, ao menos, Papai Noel,
senão órfã deste e dos que nos deixaram assim

As tuas matas já não são tão verdes;
as poluí com a fumaça do cigarro que fumo
para entender-te e suportar-te.

Meu olhar está perdido,
no pão de cada dia buscado a duras penas
e nem sempre conseguido.

Não quero herdar-te, pátria minha.
Não como estás agora.

Teu hino por tanto tempo
marejou-me os olhos.
Hoje, já nem sei o que cantar,
tamanho o desencanto

Te olho perplexa
e não a reconheço bandeira minha
que te subi em ginasiais.

Me olho e já nem percebo:
quem eu sou, aonde estou, para onde vou...

Brasília/1992

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